segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Novas Coletâneas

Já andam por aí.
O meu conto «Hospedaria Carmim» está incluído na coletânea «Aquela Viagem», enquanto participo na coletânea «Eu Tenho um Sonho...» com o conto «Sonho Esventrado».
Os livros estão disponíveis nos sites da Wook e da Bertrand.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014


PARA LÁ DA LÓGICA

 
Vejo-te entusiasmada com a camisola.

– É para o teu pai – dizes-me com um sorrisinho malandro, esquecida do presente.

Acompanho-te no sorriso para te sossegar, sem te recordar que o pai morreu no ano passado.

Deixo-te entregue ao tricot e vou-me embora.

– Margarida Maria! – Oiço chamar. Volto-me e aguardo que a diretora me alcance. – Precisamos falar.

Sento-me, disposta a ouvir. Relata-me as tuas fases de esquecimento, cada vez mais frequentes, e a necessidade de acompanhamento médico regular.

Nada mais lógico, eu sei, mas incomoda-me aquele jeito autoritário de conduzir cada conversa. Podia dizer-lhe que também eu sei o que é melhor para ti, mas calo-me, cansada de chorar por dentro, cada vez que não te recordas de quem sou.

Afasto-me, sem a encarar, evitando falar o que penso e dirigindo para ti um último olhar.

Terminaste mais uma carreia e aprecias o andamento da manga. Vejo-te uma chama de amor no olhar. Quem sou eu para a apagar?

Pelo caminho relembro os ditames da diretora. É necessário estimular-lhe a memória. Vejo nessa determinação uma dose de bom senso e imagino já modos de te cativar a atenção. Estabeleço mentalmente uma série de exercícios que poderemos fazer em conjunto. Penso em jogos, em leituras, em fotografias. Começo a organizar a rotina, que deverá ser tudo menos uma rotina, caso contrário não te cativará.

Dou uma última revisão ao esquema. Parece-me excelente.

Vou direito à estante e procuro o último álbum de fotografias. É já antigo. As mais recentes estão no computador. Escolho algumas, passo-as para o tablet. Hesito. Talvez fosse melhor imprimi-las. Arrisco. Quem sabe as novas tecnologias me ajudam a trazer-te ao presente.

 

Há um mês que iniciámos estas brincadeiras, como lhe chamas. Hoje fazemos palavras cruzadas. Sempre foste boa nisso. Agora, quando a palavra não te vem de imediato, sinto-te triste, insegura. Contudo, não é isso que se passa hoje. Tens apresentado uma memória excelente, digna dos teus melhores dias. Percebo que queres dizer-me qualquer coisa, mas falta-te coragem ou procuras a forma melhor de o fazer.

– Podemos parar um pouco? – perguntas-me.

Coloco a revista em cima da mesa e olho-te:

– Sentes-te cansada?

Com a cabeça dizes-me que não. Depois agarras-me nas mãos, acaricias-mas:

– São tão jovens. A pele suave… bem diferentes das minhas. Não quero parecer egoísta, nem cobarde, mas tenho um pedido para te fazer.

– O que quiseres mãezinha.

– Devemos respeitar o tempo, Margarida Maria, saber quando chegou a hora de deixá-lo impor-se vitorioso. Ultimamente tem sido mais fácil lembrar-me das coisas, mas isso não significa que a minha vida se tenha tornado mais fácil.

Olho-te com interrogação e quando me vou manifestar, interrompes-me:

– Espera, deixa-me acabar. Quando somos velhos e ficamos sozinhos, rodeados por outros como nós, o pior que temos é a realidade.

– Se eu pudesse – tento explicar-te o que já sabes.

– Eu sei, minha filha. Eu sei que te dói deixar-me aqui e que só o fazer porque não há alternativa. Juro-te que compreendo, mas isso não evita que me sinta só e triste. Sabes quando sou feliz?

Digo-te que não e tu prossegues com um sorriso:

– Quando não me lembro que o teu pai morreu e penso que vai entrar a qualquer momento. Quando acho que tu ainda és uma criança que precisa de mim. Quando acredito que no Natal, a família se vai reunir à mesa. Sou feliz quando o meu passado é o meu presente. Por isso, queria pedir-te que me permitisses esquecer.

Não é lógico o que me pedes, mas como posso eu sobrepor a lógica à felicidade. Afinal, isso é tudo o que quero. Que sejas feliz.

Guardo as palavras cruzadas e prometo voltar no dia seguinte, só para te ver.

Beijas-me de novo, agora com uma ternura ainda maior, talvez por receares amanhã não saberes quem sou, e recomendas-me:

– Não te esqueças! Cumpre tudo o que prometeste e se algum dia eu não souber quem tu és, não fiques triste. Não é por falta de amor, é por falta de presente.

Quita Miguel

 

segunda-feira, 22 de setembro de 2014


REFORMADO

Por mais de quarenta anos, repetira aquela rotina. Hoje, pegara nas chaves do carro e só quando se preparava para abrir a porta, se recordara que era apenas um reformado.

Lembrou, com saudade, os dias em que se levantava de um salto, porque sentia o barulho da chuva. Sempre adorara conduzir com o piso molhado e, nesses dias de dilúvio, o táxi nunca ficava vazio.

Olhou-se ao espelho e sentiu pena do nada em que se transformara.
 
Quita Miguel
Desafio em 77 palavras com final obrigatório: «... do nada em que se transformara.»

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

TANGO
 
Atravessou o oceano de barco, suportando o enjoo a cada balancear, avançando em busca de fortuna. Escolhera a Argentina, acreditando nos relatos que lera, porém depressa percebeu que sonho e realidade nem sempre combinam....

«Quando serei rico?», era uma mera pergunta de retórica, que se fazia para não se deixar derrotar, cada vez que tomava lugar no camião de recolha de lixo. 

 Um dia, cansado daquele arrastar diário, saltou a meio do percurso, virando as costas aos caixotes e dando o peito ao tango. 

 Hoje, a sua vida é feita de música, dança e pouco dinheiro, mas isso que importa?

Quita Miguel

Drabble para o tema: Tango

segunda-feira, 15 de setembro de 2014


OLHANDO O MAR

 
Manfredo limpou a cera dos ouvidos com o lápis e começou a concentrar-se na contagem. Primeiro as notas, depois a pilha de moedas que se encontrava na caixa registadora. Impressionado, assentou o número numa folha de papel e despejou o dinheiro para dentro do saco. Fora um bom dia.

– Ele vai adorar este peso, não vai, senhora Valentina? – perguntou, agitando o saco.

Valentina não lhe respondeu. Adormecera, com a cabeça ruiva pousada num monte de jornais velhos, acumulados em cima da mesa. Manfredo observou-a: o cabelo caído sobre a testa e os malares vermelhos do blush que, com nervosismo, espalhara até aos olhos.

A porta almofadada abriu-se com força, e o jovem dirigiu-se ao balcão, batendo no chão com as biqueiras metálicas das botas de cowboy. Manfredo, com um sorriso velado, estendeu-lhe o saco e um papel com o valor.

O rapaz piscou-lhe o olho e saiu, deixando a porta bater. Valentina acordou, levantando-se espavorida.

– Está na hora de ir andando. Já fechámos – esclareceu Manfredo com brandura.

A velhota colocou o chapéu, recolheu os pertences, atirando-os para dentro da bolsa e, com lentidão, dirigiu-se para o táxi, dando ao motorista o endereço da casa de repouso. O nome era apropriado, ali não se vivia, repousava-se, por isso ela escapava sempre que podia. Por vezes, limitava-se a vaguear por uma estação de comboios. Gostava de ver aquele vaivém de gente que tem um lugar para onde ir. Outras vezes, escolhia o café de Manfredo, refugiando-se do frio e do mau tempo.

 

Manfredo fechou as persianas, deu a volta à chave e saiu, tentando proteger-se da chuva que começava a cair com fúria.

Um arrepio percorreu-lhe os ombros, ao ouvir o som forte das ondas. Parecia que a água queria levar tudo consigo. Aquele mar traiçoeiro e sinistro, cujos remoinhos e correntes ceifam vidas todos os anos.

Pensou na família, ao passar em frente à fábrica. Uma estrutura grande, parecida com um celeiro, que abrigava rolos de tecido, mesas de corte, máquinas de costura enormes e gente desesperada. Gente sem perspetiva, apática, num mundo contemporâneo cego pelo sucesso económico.

Esta gente fascinava-o e confundia-o ao mesmo tempo. Era gente sincera, mas também intolerante. Viam nele o inimigo, que é necessário defrontar pelo simples facto de ter procurado outro destino.

As ruas começavam a ficar inundadas. Esperava que a senhora Valentina tivesse chegado ao lar antes daquele dilúvio.

Ao cabo de um quarto de hora, entrou em casa, escorrendo literalmente.

Despiu-se, vestiu o pijama e ligou a música. Depois, fechou os olhos e esqueceu-se de si próprio, absorvendo o universo através de cada nota musical. Imaginando-se a dirigir uma orquestra, ignorou que não passava de um mero empregado de bar. Então viveu, viveu um sonho com força de realidade. Um sonho engrandecido, do tamanho imensurável da sua criatividade.

Acendeu um Marlboro, olhando pela janela da sala. A chuva parara. Eram quase oito e meia. Passara uma hora, desde que a chuva começara a agredir a cidade, transformando as ruas em ribeiros de água agitada, que corriam em direção ao mar. Ao som da música, misturava-se o das sirenes dos bombeiros, que acorriam aos pedidos de ajuda dos menos afortunados. Sarjetas entupidas faziam as águas subir em poucos minutos, e, ano após ano, a cena repetia-se sem que daí se tirasse qualquer lição.

O sino tocava numa cadência fatigante, anunciando que algum pescador se havia perdido naquele mar feroz. Ao ouvir as ondas, Manfredo imaginou o pequeno barco a ser devorado pela água esfomeada de vida, vingando-se por a desventrarem a cada dia.

 

Também a senhora Valentina olhava o mar da janela da sala de casa de repouso, que ficava numa esquina da zona ribeirinha, uma parte da cidade onde, após o percurso paralelo de alguns quilómetros, a Alameda Santo António e a Av. Marginal se cruzavam. Era uma casa com ar condicionado, televisão a cores e horas a mais. Às vezes, deixavam-nos beber uma cerveja. Então, parecia que as horas ganhavam vida e os minutos aceleravam.

Valentina fora professora primária por mais de quarenta anos. Vivera sempre rodeada de crianças, agora trocara-as pelos velhos. Olhando em redor, rui à gargalhada até ficar com os olhos cheios de lágrimas. Deixara de conviver com a primeira infância, para conviver com a segunda.

Quando parou de rir, reparou em diversos pares de olhos fixos nela. Sem perder a compostura, serviu-se de mais chá e olhou para fora. Estava escuro como breu, mal dava para ver o mar.

Embrenhou-se nos seus pensamentos noturnos. Sentia-se com demasiada energia para estar ali, no meio de gente que se limitava a esperar a morte. Teve vontade de saltar para cima da mesa e gritar que acordassem, que reagissem à chegada da velhice, que não a deixassem vencer sem lhe dar luta. Mas não fez nada, porque uma onda de nervosismo e de embaraço a percorreu. Sentiu-se ridícula, tão ridícula que riu de si mesma.

– Chega por agora – disse a empregada, apagando a televisão que ninguém via. – Vá lá. Está na hora de dormir.

Um a um, todos se foram levantando e abandonando a sala. Só Valentina permaneceu ali, a olhar o escuro na esperança de vislumbrar um pouco de futuro.

Quita Miguel

sexta-feira, 12 de setembro de 2014


Dupla Personalidade


Debaixo do nome Ludmila Faneca, gravado no cimento por cima da porta da loja de tratamento de unhas, escondiam-se duas pessoas bem diferentes. Uma, um verdadeiro estafermo, que todos queriam enterrar. Outra, um ser querido que se revelava a lamparina no caminho dos desafortunados.

Enquanto fechava a porta, dando por findo mais um dia de trabalho, Ludmila escolhia a qual daria guarida. Vendo as três coscuvilheiras que se aproximavam, decidiu-se:

– Hoje vou de estafermo, estou de regime.

Quita Miguel

Desafio com palavras obrigatórias: Regime; Estafermo; Lamparina; Cimento; Querido   

terça-feira, 9 de setembro de 2014


ANGELINA

 
Levantou-se cedo, arranjou-se de modo elegante e desceu para o pequeno-almoço. Àquela hora eram poucos os pensionistas na sala de refeições. Uma empregada ia servindo os que demonstravam maiores dificuldades. Angelina, felizmente, mexia-se muito bem. Mais devagar do que antes, é certo, mas com bastante desenvoltura para os seus oitenta anos.
– Hoje está toda bonita – disse-lhe a empregada.
– A minha neta vem buscar-me para irmos almoçar. Vai trazer o marido para eu conhecer – informou orgulhosa.
Assim que acabou de comer, subiu ao quarto para ultimar os preparativos. Colocou um chapéu e olhou-se ao espelho. Depois riu sozinha, recordando os tempos em que ficava horas admirando a sua imagem refletida, indecisa no que vestir para sair com o Manuel. Agora, sentia a mesma inquietação. Tirou aquele chapéu e experimentou outro. Nesse momento, entrou a empregada para arrumar o quarto.
– Onde é que a dona Angelina vai toda aperaltada? Temos festa?
– A minha neta vem cá. Diga-me lá, ó Cremilde. Acha que estou bem assim?
– Claro que está, está muito elegante.
– Não sei. Talvez fosse melhor não levar chapéu. Chapéu é coisa de gente velha, não é?
– E a senhora é uma jovem, está é muito bem disfarçada – respondeu Cremilde, rindo. – Vá lá. Sente-se aí um bocadinho, enquanto eu arrumo o quarto, e fale-me um pouco da sua neta.
A neta fora estudar para Barcelona, por lá ficara e ali fizera a sua vida. Casara com um espanhol e era raro vir a Portugal, mas telefonava-lhe muitas vezes. Não lhe escrevia, porque os olhos de Angelina já não eram lá grande coisa, e não gostava que fossem os outros a ler-lhe as cartas. Uma carta é algo muito pessoal.
– Sabe, Cremilde, tenho muita pena de já não poder ler um livro, mas estas cataratas. A minha neta quis levar-me para Barcelona para me operar, mas já estou velha para essas andanças. O meu lugar agora é aqui, à espera que Nosso Senhor se lembre de me chamar. Nunca gostei de dar trabalho a ninguém e não vou começar agora, depois de velha.
– Velha, velha, mas uma velha toda jeitosa. Venha cá, que eu ajudo-a a escolher uma roupa. Vamos aqui fazer uma produção digna duma diva do cinema.
Cremilde gostava de trabalhar no lar. Dava-lhe prazer poder alegrar o resto de vida dos que escolhiam aquele lugar como derradeira morada.
Angelina colocou um vestido florido em tons de azul e um pequeno chapéu de cetim de tom celeste.
– Vá lá, uma voltinha – desafiou Cremilde, sorrindo.
A cara de Angelina resplandecia de felicidade, preparando-se para o encontro. Pegou na mala e desceu para o jardim. Faltava ainda uma hora para a neta chegar, mas preferia esperar no meio das flores, assim sentia-se menos ansiosa e parecia que o tempo passava mais depressa. Escolheu um banco virado para o portão da entrada. Poderia vê-la mal colocasse um pé ali dentro.
Na sala de refeições, as empregadas atarefavam-se a preparar tudo para o almoço. Das janelas podiam ver Angelina sentada, costas bem direitas para não amarrotar o vestido.
O almoço terminou, os velhotes dispersaram-se entre a sala de televisão, a sala de leitura e os quartos, e Angelina permanecia no banco de jardim.
Cremilde foi até lá.
– Venha para dentro, come qualquer coisa, e quando a sua neta chegar sai com ela.
– Não, não. Prefiro esperar aqui.
– Então vou-lhe buscar alguma coisa para comer. Já são duas horas.
– Não, obrigada. A minha neta deve estar a chegar. Eu espero por ela para almoçar.
Cremilde voltou para dentro destroçada. Como era possível que alguém criasse expetativas e depois não aparecesse, nem sequer telefonasse? Foi à secretaria, procurou o número de telefone da neta e ligou-lhe, disposta a dizer-lhe das boas e das bonitas, mas a chamada foi direta para a caixa postal.
As horas passavam, o sol ia descendo no horizonte e Angelina recusava-se a entrar. Se a neta dissera que vinha, ela viria.
Em breve teriam de a trazer para dentro. Começaria a refrescar e não poderia continuar ali. A solução seria dar-lhe um calmante desfeito no chá, e quando adormecesse, colocá-la no quarto.
Cremilde sentou-se ao seu lado com duas chávenas.
– Vai-me fazer companhia neste chá. E não me diga que não, que fico ofendida.
Angelina pegou na chávena, mas não bebeu. Não conseguia entender o que acontecera. A neta nunca a deixaria à espera, a não ser que algo muito grave tivesse acontecido. Sentiu medo. Uma lágrima dançou-lhe nos olhos, no momento em que o portão se abriu e a neta apareceu na sua frente.
Ao ver a avó, correu na sua direção e ajoelhando-se à sua frente, disse:
– Ó avozinha desculpa, deves estar tão preocupada, mas não havia como te avisar. O carro avariou, ficámos sem bateria no telemóvel e ninguém parava para nos ajudar. Sabes aquelas alturas em que parece que todo o universo conspira contra nós? Mas, depois de nos fazerem sofrer tanto, os anjos acabaram por ter pena de nós e colocaram no nosso caminho um polícia simpático, que nos trouxe até aqui. Foi o dia mais longo da minha vida.
– Pois o meu, minha filha, está apenas começando! – respondeu Angelina, beijando-a na testa.

Quita Miguel

 

sábado, 6 de setembro de 2014

Menção Honrosa do Prémio Literário Horácio Bento Gouveia 2014

Pois é, o meu conto «Um Outro Olhar» foi distinguido com uma menção honrosa na edição deste ano do Prémio Literário Horácio Bento Gouveia.


É muito gratificante quando algo que fazemos com paixão é reconhecido.
Para quem não sabe (e a maioria não saberá), Ana Cristina Santos e Quita Miguel são a mesma pessoa.
Quita Miguel foi o pseudónimo que escolhi e com ele assino o que faço para dar luz a quem sou.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

LIVRE

Estava a sorrir. Se alguém conseguisse imaginar a sensação de poder ver a linha do horizonte. Quando transpusera o portão e deixara de estar confinado à cela que partilhara por dez anos, tudo ganhara uma nova dimensão.

– O que deseja? – perguntou a empregada da esplanada.

Pediu um café e assustou-se com o preço, mas achou que merecia aquele pequeno luxo. Afinal, estava a reencontrar-se com a vida.

Saboreou-o, sentindo cada gota escorregar pela garganta com suavidade. Depois, cruzou as mãos no colo e deixou-se ficar ali, somente a olhar o mar.

Amanhã, pensaria no que fazer. Hoje, queria apenas viver.

Quita Miguel

Drabble para o tema «Regresso»

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Perdido
«Permite que o encontrem, por favor», pensei, sabendo que eram poucas as hipóteses.
Despois, olhei para Severa, que se encontrava à minha frente.
Sabendo do meu ceticismo, quis mandar-me embora, mas conteve-se.
– Querido, estou aqui – disse depois, dirigindo-se ao marido.
Ele, sabendo que o cachorro estava bem, sorriu-lhe.
– Senhora da minha vida, o teu menino está seguro – declarou, depois de a beijar.
Sabendo que lhe falava a verdade, Severa acomodou-se nos seus braços, sentindo-se num porto seguro.

Quita Miguel, 54 anos, Cascais

Desafio nº 73 – frases com sabendo e depois