quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A Aliança da Discórdia

«Foi até à janela que dava para as traseiras do hotel. Que vista deprimente, que silêncio medonho. Como sentia falta de casa. Bebeu mais um pouco, à medida que revia pela terceira vez a apresentação que deveria fazer na manhã seguinte. Analisou o tom de voz, assegurando-se de que transmitia seriedade, confiança e dinamismo: uma combinação vencedora.»
Começa assim o conto «A Aliança da Discórdia». Grátis aqui:
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Quita Miguel

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Lambe-botas

O amor torna-nos burros, faz-nos dizer sim quando queremos gritar não.
Foi a vontade de lhe agradar que me fez aceitar cozinhar para o seu novo chefe, aquele mega ego que Nazário pretende bajular.
Como posso eu amar um lambe-botas? O ser humano é de facto estranho, porém o universo encarrega-se de corrigir os nossos desvios. Esqueci-me de comprar sal… Aposto que esta será a última vez que cozinho para o babão. Acho que me vou divertir.

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 15 – falta um ingrediente e o jantar é dali a nada…

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Mau presságio

Sempre que a velha me sorria, mostrando os dentes amarelos, sabia que era desastre anunciado. Por isso, procurava evitar passar à sua porta, o que implicava fazer mais um quilómetro a pé, por vezes debaixo de chuva ou sob o sol escaldante. Era duro. 

Hoje, a pressa era muita, havia que encurtar caminho. Ao ver o maldito sorriso, corri para casa, adivinhando o pior, mas ao contrário era o melhor que me aguardava: bilhete de euromilhões premiado.

Quita Miguel

Desafio RS nº 44 – reflexão em 44, contrário em 33

sábado, 3 de dezembro de 2016

Inevitável

Paro e olho o imenso prado.
Um gato pardo mira-me, espreguiçando-se languidamente.
Outros gatos se aproximam a medo.
Uma nuvem negra envolve o céu.
Ao longe, range um trovão ameaçador.
Gotas grossas penetram-me o camisolão espesso.
Abaixo, brilha a luz do asilo.
Lugar onde a dor se isola.
Aliso o cabelo ensopado de chuva.
Baixo os braços numa repetitiva resignação.
Queria apenas poder dopar a vida.
Negar o inevitável que sempre chega.
Seria uma tosga e tanto.

Quita Miguel

Desafio nº 113 – anagramas em frases de 6 palavras

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Sou diferente

– O teu raciocínio está errado! – dizes-me do alto da tua certeza, como se tudo fosse uma verdade matemática.
Olho-te com a raiva que me consome, cerrando os punhos, lamentando a pouca idade. Então, explodo: 
– Tenho o direito de pensar por mim e decidir que caminho seguir. Vou errar? É bem possível, mas pelo menos procuro um modo diferente de ser, em vez de repetir e aceitar verdades instituídas.
Vejo como te assusta o meu poder. Que bom!

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 14 – direitos da criança

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Regresso à simplicidade

Remediar sempre me parece fácil, porque agora sei que na vida nada deve ser levado demasiado a sério.
Briguei por coisas insignificantes, sem me aperceber de como tais lutas eram ridículas. Deixei que o ego dominasse o caminho, ignorando os carreiros de terra que conduziam ao descampado que hoje me encanta. 
Um dia, olhando em volta, vi a energia desperdiçada, o tempo gasto em inutilidades, a vida não vivida e, desde então, remediar sempre me parece fácil.

Quita Miguel

Desafio RS nº 43 - remediar parecia fácil

terça-feira, 1 de novembro de 2016

A caminho de casa

 Mexe-te, estúpido!
– Isso são modos de tratar um amigo? – perguntou com raiva.
 Claro! Achas-te tão esperto e não percebes que a escuridão se aproxima. Que estupidez a minha ter confiado que conseguias mexer essas patas.
– O estúpido fui eu, claro. Não é preciso ser muito esperto para concluir isso.
A claridade desaparecia, tornando o lugar terrivelmente escuro. Agora, cada um mexia-se a medo, procurando dentro de si a esperteza que, apesar da escuridão, o conduzisse a casa.

Quita Miguel

Desafio nº 112 – 3x5 palavras no texto

sábado, 29 de outubro de 2016

sábado, 22 de outubro de 2016

RECORDE DE PACIÊNCIA

«Com certeza, concordarão comigo», oiço dizer. Com o que é que ele acha que eu concordo? Não ouvi bosta nenhuma do que ele disse. Estamos aqui fechados há seis horas. Será que alguém ainda escuta alguma coisa?
Podem trazer um farol para iluminar estas mentes prodigiosas, que acham que produtividade e competência são sinónimo de reuniões intermináveis? Olho à esquerda, à direita: todos os presentes estão ausentes, e a mente brilhante, achando-se o máximo, continua se exibindo.

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 13 – recordes pessoais

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Último Voo

Escalo os últimos degraus da torre e encosto-me às ameias. Tenho a goela seca, mas não me calo. Grito o que me vai na alma, ainda que ninguém faça caso. A nenhum dos presentes importa o caos que se instalou na minha vida. Oiço-os subir a escada, sei que uma cela me aguarda. O tempo escoa, não posso esperar mais. Debruço-me e imagino que voo, enquanto gritos preenchem o ar e o chão se aproxima depressa demais.

Quita Miguel


Desafio RS nº 42 – letras de escola sem escola

sábado, 1 de outubro de 2016

Tigre Enjaulado

– Ligou para o 111, a linha de ajuda para quem se sente aprisionado pela vida, o meu nome é Micael, em que posso ser útil?
– Sinto-me um tigre enjaulado. O que faço para não arranhar o próximo que entrar no meu gabinete?
– Porque não vai dois ou três dias de férias?
– Impossível.
– Que tal mudar de emprego?
– Você pirou! Acha que há para aí empregos ao pontapé?
– Bem, então saia e vá comprar um saco de boxe.

Quita Miguel

Desafio nº 111
 – linha de atendimento 111

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Em busca

Saudades da escola nunca tive, talvez porque não tenha aí encontrado respostas às questões que me acompanharam ao longo da vida.
Aprendi algo? Sem dúvida, porém a maior parte nunca me interessou. Encheram-me de conceitos que a memória ram limpou imediatamente após cada exame.
Por estranho que possa parecer, sempre fui boa aluna, é que ser-me-ia impossível ter de repetir aquilo que para mim era intragável.
Hoje, continuo em busca de respostas. Quem sabe, um dia, apareçam.

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 12 – a escola…

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Curiosidade paga-se

Lívia poderia ter mandado um dos dois primos espreitar dentro daquela casa, no entanto era demasiado curiosa para se limitar a ficar sentada, aguardando o relatório do que se passava no covil dos ladrões. 
A mãe avisara-a mais de três vezes de que não deveria forçar o tornozelo, ela ignorara-a, agora submetia-se à sentença final: sete dias de imobilização total. Assim se queimavam os últimos dias de férias: Lívia confinada ao quarto, os primos correndo pela praia.

Quita Miguel

Desafio RS nº 41 – números primos e… primos

histórias em 77 palavras: Programa Rádio Sim 826 – 24 Agosto 2016

histórias em 77 palavras: Programa Rádio Sim 826 – 24 Agosto 2016: OIÇA aqui o programa em podcast na  Rádio Sim (depois de entrar no link basta clicar em «OIÇA aqui»).

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Roseiral

O meu tio comia pipocas como se não houvesse amanhã. Escondia-se no refúgio, no meio das rosas, apesar dos espinhos, e saciava-se.
O problema foi que, naquele dia, uma pipoca se lhe atravessou no gorgomilo e a solução foi carregá-lo para o hospital. E se ele era pesado, quando se debatia. Foi tratado por um médico jovenzinho, que o fez sofrer.

Enraivecido e dolorido, chegou a casa, pegou no martelo e o roseiral tornou-se num ser desmembrado.

Quita Miguel
Desafio nº 110 – 8 palavras obrigatórias

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Amo-te

Fecho os olhos e sonho. Enrolo o papel e coloco-o na garrafa, assobiando a nossa canção, na esperança de que os sons se deixem aprisionar. Só então coloco a rolha. 
As gaivotas grasnam, envolvendo-me num voo circular. São sons arrepiantes que traduzem o meu desespero pela tua partida.
Tomo a garrafa nos braços, acaricio-a, beijo-a e atiro-a ao mar na esperança de que um dia a encontres e saibas que o amor é a única resposta: «Amo-te».

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 11 – mensagem na garrafa

sábado, 13 de agosto de 2016

Hospedaria Carmim

«Gina parou na entrada do entroncamento e estendeu o mapa sobre o volante. Porque é que os faziam tão complicados? Procurando decifrá-lo, reconheceu que errara o caminho e não fazia a mais pequena ideia de onde se encontrava. Seguir por onde?»
Começa assim o conto «Hospedaria Carmim», disponível aqui:


Um péssimo sentido de orientação, uma teimosia que a leva a enfrentar o desconhecido sozinha e a constatação de que se encontra perdida no meio do nada. A gasolina ameaça deixá-la na mão, à medida que a noite se aproxima e o coração parece querer parar, quando, para alívio, a Hospedaria Carmim surge no seu caminho. Mas será uma hospedaria como as outras?

Desaparecida

Desceu a avenida em profundo desânimo, com a raiva a consumir-lhe as entranhas. Uma menina: haviam revelado com animação.
Para que queria ele uma maninha, que se manifestasse abrindo a goela? 
Se, no dia seguinte, tivesse oportunidade de fazer desaparecer a pequenita
Aquele gajo de uniforme estava a aniquilar-lhe os planos. Respirou fundo, precisava de ter um domínio infinito dos seus nervos.
«Será bonito ver o pânico a tomar conta deles», pensou, enfiando a criança no armário.

Quita Miguel

Desafio RS nº 40 – 14 palavras com a sílaba NI

domingo, 31 de julho de 2016

Descrença

Juntou-se-lhes no final da tarde, na hora em que o crepúsculo a estimulava a virar-se para dentro. Não sabia porque ali entrara. Não gostava de catedrais, daquela dimensão desmedida, do peso de um Deus em que não acreditava. Olhou as pessoas à volta e sentiu-se esmagada pelas suas crenças. 
«Vá lá, faz um esforço, acredita», pensou, no momento em que se deram as mãos. 
Tentou sentir algo mais, porém tudo o que a preenchia era a solidão.

Quita Miguel

Desafio nº 109 – solidão no meio de gente

ESCAFEDER-SE


Escafeder-se: Pirar-se, dar de frosques, rumar para lá das vistas, sumir, desaparecer, virar as costas e deixar tudo para trás, ir-se embora, fugir. Verbo que se conjuga a partir das entranhas e resume aquele sentimento que nos invade quando vemos aproximar o indesejado, o melga, o chato, o falso, o cínico, enfim, aquele que era bom que se escafedesse. Por vezes, é tudo o que precisamos para dar sentido a um dia que nem merecia tal nome. 

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 10 - definições criativas

sábado, 23 de julho de 2016

E Hoje?

«Ver e ouvir tudo nem sempre é o melhor» concluiu o homem, esquecido do início do bem-querer louco vivido pelos dois.
«Pode ser que hoje tudo brilhe diferente», pensou incrédulo, porém incumbido do poder típico de quem finge ser feliz.

Unir em vez de dividir, ser em vez de querer, possuir em vez de pretender: que irónico o «sim» dito defronte do clérigo!

E hoje? Estendido só no leito, vive um presente bem diferente do futuro prometido.
Quita Miguel
Texto sem A. 
EXTINTOR

Ficou surpresa ao vê-lo ali. Não ouvira o camião chegar. Dos seus olhos, saía o fogo da espera. Ao fim de tantos anos, continuava a aguardar cada regresso como o primeiro, porém ele, sem uma palavra, um beijo, um aceno, limitou-se a rodear o sofá, entrando na cozinha. 

Com a boca ávida, saboreou uma cerveja e depois outra e outra e outra.

Bêbedo, apagou em frente à televisão, enquanto ela, olhando-o, se perguntava: porque permaneço eu aqui?
Quita Miguel

quarta-feira, 13 de julho de 2016

The Spots' Umbrella

The umbrella, vain as he was, liked to show off his blue and white balls. But he did not want to just be into any hand. Only next to the pretty girl did he feel good. Happy, the spots’ umbrella enjoyed every day spent with Catherine, until life handed him a trick: he was forgotten on the train. And now? 

A children's book by Quita Miguel available here: http://ow.ly/XQLX3005pGq

sábado, 25 de junho de 2016



«– Quase no ponto – disse Francisco Campina em voz alta, sentindo a excitação amplificar dentro da sua cabeça atormentada.
A visão da serra mudara para vermelho-fogo, ao revelar uma coluna de chamas delicadas, que começava a ganhar expressão. Uma realidade sublime.»
Começa assim o conto «Embalado Pelas Chamas». Faça o download grátis aqui:
http://ow.ly/HNLA301oBvw

terça-feira, 21 de junho de 2016

Festas Populares

Enquanto percorria as ruas sinuosas, salivava, antecipando o prazer de saborear uma sardinha assada na fogueira. Apenas uma, já que o preço não permite maior luxo. Engana-se a fome com bailarico, enquanto não começam as marchas.
Turistas maravilham-se com os balões, que vão colorindo o ambiente.
– Não faça isso, que murcha o manjerico – grita alguém, ao ver o nariz do inglês bem enfiado no vaso. – É assim! – explica, fazendo da mão a concha perfeita para o cheirar.

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 9 - santos populares com palavras impostas

quinta-feira, 16 de junho de 2016




Uma vida que muda aos noventa e um anos, imposta por um destino que não conseguiu recusar. Um novo país, uma nova casa, mas sempre a mesma passividade, até que uma criança vem revolucionar-lhe os dias e reabrir-lhe o coração para o amor, ainda que passageiro.

Disponível aqui: http://ow.ly/waWI300z3IU

Parábolas

Gostava de criar, de adicionar às palavras um significado novo. Era um contador de histórias, num mundo recheado pelas equações da vida. Pela sua voz multiplicavam-se suplícios de amores divididos pela partida de alguém, diminuíam-se prazeres e adicionavam-se dores. 
Dentro de si formavam-se teoremas, que ganhavam vida através de operações desiguais, ordenando-se de modo arbitrário. Não havia padrão no que construía, apenas procurava que cada parábola tornasse o perímetro da vida mais rico e sem resto zero.

Quita Miguel
Desafio RS nº 38 – a matemática dos dias

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Vencedor

– Entra! – ordenou Policarpo, a partir da poltrona.
As pálpebras tremiam-me, ao mesmo tempo que o seu palavreado predileto preenchia o ar, achincalhando-me, impedindo-me de pleitear. Sentia-me como se estivesse no pelourinho, sob o olhar penetrante do julgamento.
«Desta vez, não vou ouvir calado», pensava, porém a boca permanecia fechada. 
Quando, por fim, se calou, encolhi os ombros, soltei um palavrão e atirei com a porta. Palavras para quê? Estendi-me à sombra da palmeira e, sentindo-me vencedor, sorri.
    Quita Miguel
    Desafio nº 107 - 10 palavras com PLR
SUMIR

Como seria bom se existisse um tecido que nos ocultasse, que nos tornasse invisíveis aos olhos dos outros. Nada do tipo «o rei vai nu». Não, não é nisso que estou a pensar.
Sabem quando nós apenas queremos que nos deixem em paz, queremos estar sem estar, ouvir sem escutar, ver sem olhar. Pois, seria maravilhoso poder apenas vestir uma capa e deixar de estar, de ser, ocultarmo-nos para a vida, sumir sem sair do mesmo lugar.

Quita Miguel
Desafio Escritiva nº 8 - invenção que muda o mundo

quarta-feira, 18 de maio de 2016

SOCIEDADE ENFERMA

Leia aqui o conto com que participo no 8º concurso da Papel D'Arroz sujeito ao tema «Oportunista»

http://ow.ly/J9dc300k53I

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Palavras Cruzadas

Levantou-se, ouvindo o ranger dos joelhos. Onde se enfiara o lápis que a mão inadvertidamente largara? Procurou espreitar por baixo dos móveis, mas quem convencia o corpo a obedecer-lhe?
Triste, reganhou o lugar no sofá. Como ocuparia o tempo sem as palavras cruzadas? Acendeu a televisão. Tudo repetido. 
Vendo-o adormecido, o cão rastejou por baixo do aparador, recuperando o companheiro diário do velho. 
Com um suave latido despertou o dono, com cuidado colocou-lhe o lápis no colo.

Quita Miguel

Desafio RS nº 37 – o lápis caído no chão

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Livros Publicados


Romance Juvenil

A vida de Pascoal que dá uma reviravolta quando deixa o orfanato para ir viver na fazenda da Família Lança. Irrequieto e curioso, Pascoal anda sempre em busca de uma nova aventura, de uma experiência diferente, que nem sempre corre bem, mas pelo menos serve para mascarar a saudade que às vezes ataca. Contudo, o verdadeiro desafio será fazer com que todos, incluindo ele, se aventurem a revelar os sentimentos sem receio.

Bertrand http://ow.ly/W7u4d

terça-feira, 3 de maio de 2016

Martirizados

Se tivéssemos observado os indícios de prepotência, contraindicaríamos deixar as crianças à guarda do major. 
Enquanto ele aproveitava para demonstrar quem mandava, o sorriso dos miúdos tornava-se exíguo. É fácil desmotivar-se em tal ambiente. 
De dedo em riste e mão no cinto, o major procurava domesticar os pequenos seres, como se os seus atos fossem dramáticos para o mundo. Martirizados os miúdos encolhiam-se, num sentimento misturado de angústia, medo e esperança de que a salvação enfim chegasse.

Quita Miguel

Desafio nº 106 – palavras com M T D S R O

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Lista de supermercado

Cada manhã, contava as folhas que estavam à sua frente e sonhava com o futuro. Seria a folha da tabuada da Marília ou uma carta de amor? Não, isso era um bocado lamechas. Talvez um contrato. Não, demasiado frio. O que ela gostava mesmo era de ser um poema do Nino. 
Nesse momento a tia Joaninha pegou nela, destapou a caneta e começou a escrever:
  •          Bacalhau
  •          Batatas
– Ó Marília! Vê lá se precisamos de cebolas e alhos. 

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 7 – as listas

sábado, 16 de abril de 2016



«- Por Deus! Não sei o que faça contigo. Tudo pode mudar, só depende de ti. Não percebo porque te sacrificas dessa maneira - desabafou Eva Jesus, fixando a irmã que calada soltava mais um botão da camisa. Gostava de usar as golas abertas.»

Começa assim o conto «Vida de Costas Voltadas». Faça o download grátis em http://ow.ly/4mJybP

terça-feira, 12 de abril de 2016

Voltas?

Não queria discutir. Falar desses assuntos entediava-a. Era tudo inútil. Que fazer, afinal?
Uma surpresa espicaçou-a. O pasmo quebrou qualquer imaginada inquietação. Agora, juntos permaneceriam. Ele fizera-a acreditar. Ela, ingénua, acreditara.
– Ouve – proferiu Feliciano. 
E ela ouviu. E não gostou. A deceção invadiu-a. Que pesar inexplicável. Ele partiria, deixá-la-ia. A habitual melancolia desmoronou-a. Triste, aguardou. O quê, perguntarão. Nada. O fim, talvez.
A estrada estendia-se interminável. Ele avançava. Ela apenas observava.
– Um dia voltas? – perguntou esperançosa.
– Talvez.

Quita Miguel

Desafio Rádio Sim nº 36 – frases com palavras de nº de letras crescente

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Apesar da culpa

Picou o ponto e acelerou o passo como fazia há dez anos, de segunda a sexta, numa rotina só interrompida nos magros dias de férias. 
Encarou a íngreme subida, mirando a paragem. Porém, a meio interrompeu os passos, sentindo-se, inexplicavelmente, ridícula. Para quê aquela ânsia de ser espremida entre iguais?
Viu o autocarro passar, atravessou a estrada e sentou-se na esplanada, oferecendo-se um momento de prazer, ignorando a culpa que espreitava. Pela primeira vez, apanharia o próximo.

Quita Miguel

Desafio nº 105 – frase de Einstein: Não há maior demonstração de insanidade do que fazer a mesma coisa, da mesma forma, dia após dia, e esperar resultados diferentes.