domingo, 31 de julho de 2016

Descrença

Juntou-se-lhes no final da tarde, na hora em que o crepúsculo a estimulava a virar-se para dentro. Não sabia porque ali entrara. Não gostava de catedrais, daquela dimensão desmedida, do peso de um Deus em que não acreditava. Olhou as pessoas à volta e sentiu-se esmagada pelas suas crenças. 
«Vá lá, faz um esforço, acredita», pensou, no momento em que se deram as mãos. 
Tentou sentir algo mais, porém tudo o que a preenchia era a solidão.

Quita Miguel

Desafio nº 109 – solidão no meio de gente

ESCAFEDER-SE


Escafeder-se: Pirar-se, dar de frosques, rumar para lá das vistas, sumir, desaparecer, virar as costas e deixar tudo para trás, ir-se embora, fugir. Verbo que se conjuga a partir das entranhas e resume aquele sentimento que nos invade quando vemos aproximar o indesejado, o melga, o chato, o falso, o cínico, enfim, aquele que era bom que se escafedesse. Por vezes, é tudo o que precisamos para dar sentido a um dia que nem merecia tal nome. 

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 10 - definições criativas

sábado, 23 de julho de 2016

E Hoje?

«Ver e ouvir tudo nem sempre é o melhor» concluiu o homem, esquecido do início do bem-querer louco vivido pelos dois.
«Pode ser que hoje tudo brilhe diferente», pensou incrédulo, porém incumbido do poder típico de quem finge ser feliz.

Unir em vez de dividir, ser em vez de querer, possuir em vez de pretender: que irónico o «sim» dito defronte do clérigo!

E hoje? Estendido só no leito, vive um presente bem diferente do futuro prometido.
Quita Miguel
Texto sem A. 
EXTINTOR

Ficou surpresa ao vê-lo ali. Não ouvira o camião chegar. Dos seus olhos, saía o fogo da espera. Ao fim de tantos anos, continuava a aguardar cada regresso como o primeiro, porém ele, sem uma palavra, um beijo, um aceno, limitou-se a rodear o sofá, entrando na cozinha. 

Com a boca ávida, saboreou uma cerveja e depois outra e outra e outra.

Bêbedo, apagou em frente à televisão, enquanto ela, olhando-o, se perguntava: porque permaneço eu aqui?
Quita Miguel

quarta-feira, 13 de julho de 2016

The Spots' Umbrella

The umbrella, vain as he was, liked to show off his blue and white balls. But he did not want to just be into any hand. Only next to the pretty girl did he feel good. Happy, the spots’ umbrella enjoyed every day spent with Catherine, until life handed him a trick: he was forgotten on the train. And now? 

A children's book by Quita Miguel available here: http://ow.ly/XQLX3005pGq