sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Fazendo gazeta

Ele tinha as sobrancelhas franzidas e isso significava que eu precisava de ser rápido no gatilho. 
– Eu ia para a escola. Abri a porta, no momento em que uma rajada de vento a empurrou contra o meu queixo. Ainda me amparei com o braço direito, mas caí, bati com a cabeça e desmaiei. Acordei mesmo agora.
– Muito bem. Agora quero ouvir a verdade.
– Bem, já acordei há um pouquito, mas ainda me sentia tonto, fiquei por aqui.

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 17 – desculpas criativas

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Banda desenhada

As badaladas ressoavam na sua cabeça ao mesmo tempo que ela tentava ordenar as promessas. Porque é que elas não tocam de forma mais espaçada? Bem que a meia-noite poderia ser vivida ao ralenti. Assim, talvez as promessas não se embaraçassem umas nas outras e alguma se cumprisse. 
Ema alternava o olhar entre os livros de banda desenhada que prometera abandonar e os manuais escolares onde jurara enfiar os olhos. Pois é: quem mais jura mais mente.

Quita Miguel

Desafio Escritiva nº 16 - promessa de ano novo por cumprir

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Cavalgando

Cavalgou pelo coração da floresta envolta numa nesga em luz, sentindo-se preso pela sua magia.
A mudança fizera-lhe bem, afastando-o da confusão da cidade. Fora uma decisão polémica, mas cheia de saber. Cansado de ser pisado pela rotina, erguera-se e, juntando os cacos, partira em busca do trevo.
Agora, sentia-se orgulhoso por aquela vida simples e maravilhava-se a cada flor que despontava entre as frondosas árvores.
Era ali o seu lugar, longe do mundo, perto de si.

Quita Miguel

Desafio Rádio Sim nº 46 – 12 palavras impostas

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Talvez amanhã

– Não... não! – Tentou recompor-se e prosseguir o caminho, apesar de mal conseguir andar em linha reta.
Porque bebera tanto? Porque bebia sempre tanto? Não era necessário pensar muito para descobrir a resposta: não gostava de si!
Encostou-se ao vidro de uma montra e deixou que o seu corpo grande e gordo escorregasse até se sentar no chão. Não sabia como sair do túnel em que enfiara há tanto tempo atrás. Que fazer?
– Talvez amanhã eu não beba.

Quita Miguel

Desafio nº 115 – frase de Valter Hugo Mãe