quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Filhós de Natal

Escondo a falta que me fazes, apesar das ideias pré-concebidas, que guiavam a minha vida e me faziam afastar de ti.
O cheiro que chega da cozinha faz-me retroceder à infância. Como gostava de ajudar a preparar a calda de açúcar para mergulhar as filhós e, em seguida, as regar quando já estavam no alguidar de barro que tinha sempre lugar marcado na sala.
Tu, bem mais gulosa do que eu, deliciavas-te com os restos no alguidar.

Quita Miguel

Escritiva nº 27 - cheiros

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Que verdade?

A magazine, diante de Hermengarda, noticiava pouca verdade, ignorando a veracidade que a rodeava.
Não tinha grande conteúdo e não fazia nenhuma referência à morte do morador de rua que, a cada manhã, arrumava a trouxa frente à porta da igreja, para continuar o caminho que o empurrava para o incógnito e cujo medo fazia retroceder cada noite ao recanto da igreja.
Recordou o homem que já não a cumprimentaria de cabeça baixa, como quem tem vergonha.


Desafio nº 131 ― Hermengarda Pirraça sem S e L

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Desesperança

Vejo o campo a ondular sob o vento, observando cada espiga seca, que o frio e a ausência da água matou.
Observo o céu azul, desejando que as nuvens o preencham, e fecho os olhos, procurando sentir os pingos de chuva na face, mas apenas o vento marca presença, gelando o ar e retirando-lhe a pouca humidade que ainda permanece.
Entro em casa com os olhos embaçados, percebendo que as minhas lágrimas assinalam o fim da esperança.


Desafio nº 130 ― de espiga a esperança

domingo, 10 de dezembro de 2017

Humanidade

Confesso que cada vez me espanto menos com a natureza humana, talvez porque, por um lado acredito pouco nas pessoas, e por outro pergunto-me se existe certo ou errado. É que muitas vezes basta uma diferente cultura para classificar de mau o que nós consideramos bom e vice-versa.
Este olhar sobre a humanidade tem-me feito julgar sempre menos e duvidar sempre mais das minhas certezas anteriores.
Hoje, apenas acredito que tudo tem um propósito que desejo compreender. 


Escritiva 26 – mistérios da natureza humana

sábado, 9 de dezembro de 2017

Reconfortando-me

Às vezes, acho que sou um bocado anta.
Nasci com uma paixão inata por pastéis de nata, que ainda hoje me encantam, apesar de ter sido desencantada num dos Natais de criança. 
Eu explico: ingénua, imaginava que existia uma natureza encantada e anjos que produziam doces que espalhavam pelo mundo. A minha irmã, com naturalidade revelou-me a cruel verdade e levou-me ao café da tia para ver os empregados encherem as formas dos adorados pastéis de nata.

Quita Miguel
 
Desafio nº 129 – palavras que vêm de NATA